Renato Gaúcho. Foto: Lucas Uebel

A teimosia de Renato Gaúcho no Grêmio: “O campo fala”

Todo técnico tem uma dose de teimosia, uma característica quase intrínseca à profissão. Essa teimosia não distingue entre os grandes nomes do futebol mundial, como Pep Guardiola, e os técnicos que atuam no Brasil, como Renato Gaúcho. Enquanto o técnico espanhol raramente enfrenta críticas severas de torcedores, a realidade no Brasil é diferente. A pressão por resultados e a cobrança intensa fazem parte do dia a dia de qualquer treinador que comanda um time de futebol no país. E quando as coisas não vão bem, os gritos vindos das arquibancadas, que muitas vezes se resumem a uma palavra, tornam-se inevitáveis. Todos sabem do que estamos falando.

Renato Gaúcho
Renato Gaúcho. Foto: Lucas Uebel

A frase “é proibido brigar com a imagem”, amplamente conhecida na televisão, também pode ser aplicada ao futebol. Assim como “o campo fala”, outra expressão que se tornou comum no mundo do esporte. Essas máximas lembram que, muitas vezes, as respostas estão diante dos nossos olhos, e insistir em ir contra o óbvio pode ser um erro fatal. Renato Gaúcho sentiu na pele essa realidade nos últimos jogos do Grêmio, especialmente no confronto decisivo contra o Fluminense pela Libertadores.

Aposta em jovens: A ascensão de Monsalve

Renato Gaúcho tomou uma decisão corajosa ao escalar o jovem colombiano Monsalve contra o Athletico-PR. E o risco valeu a pena: Monsalve não só teve uma boa atuação, como também marcou um gol importante. No jogo seguinte, contra o Cuiabá, o jovem voltou a brilhar, desta vez com uma assistência que rendeu elogios de todos os lados.

Monsalve. Foto: Lucas Uebel

Com essa sequência de boas atuações, era natural que a torcida e a crítica pedissem Monsalve como titular no duelo contra o Fluminense, válido pela Libertadores. No entanto, Renato optou por deixá-lo no banco, uma decisão que gerou murmúrios de insatisfação entre os tricolores. Mas o futebol, como se sabe, é um jogo de ação e reação. Quando o Fluminense abriu o placar, Renato precisou agir rapidamente. E foi aí que ele recorreu a uma das “leis do Guerrinha” e fez o que muitos já esperavam: colocou em campo os melhores jogadores disponíveis.

Renato Gaúcho e as mudanças decisivas

A entrada de Monsalve, juntamente com Gustavinho, mudou o rumo da partida. O Grêmio, que perdia por 1 a 0, conseguiu a virada com uma atuação coletiva exemplar. Reinaldo foi um dos destaques, mas foi Monsalve quem realmente potencializou o desempenho do time. Ele substituiu Cristaldo, enquanto Gustavinho entrou no lugar de Pavón. Com essas mudanças, Soteldo passou a dominar o lado direito do campo, atormentando o jovem Esquerdinha, enquanto Monsalve se conectou com Braithwaite no meio, e Gustavinho segurou Samuel Xavier na ponta oposta.

Monsalve. Foto: Lucas Uebel

A dinâmica do jogo mudou completamente, e o Grêmio se tornou um time mais perigoso e ofensivo. As substituições feitas por Renato Gaúcho trouxeram novas preocupações para o técnico adversário, Mano Menezes, que viu seu time ser envolvido pelas novas peças gremistas. O até então intocável Pavón ficou de fora, e o Grêmio mostrou que, quando necessário, é preciso fazer o óbvio para vencer.

A frase que Renato Gaúcho talvez devesse levar para a próxima partida, marcada para terça-feira (20) no Maracanã, é a mesma que um antigo diretor da Globo costumava repetir: “técnico só mexe bem porque escala mal”. O futebol é implacável, e o campo, como dizem, fala. Insistir em escolhas equivocadas é, muitas vezes, o caminho mais rápido para ouvir o coro de insatisfação vindo das arquibancadas. Na próxima decisão, contra o Fluminense, insistir com Pavón pode ser visto como uma briga com a imagem, uma recusa em ouvir o que o campo já deixou claro. E, nesse caso, a teimosia pode custar caro.